O artigo intitulado "Refundação da Spcine", assinado por Ricardo Rihan e André Gatti e publicado no Telaviva em 25 de janeiro de 2025, apresenta uma visão enviesada e tendenciosa sobre a atuação da Spcine, desconsiderando avanços concretos e dados objetivos que demonstram sua importância para o desenvolvimento do setor audiovisual em São Paulo. O texto, em tom de ataque, tenta desqualificar a relevância da empresa sem reconhecer os impactos positivos de suas ações na produção, exibição e na democratização do acesso ao cinema.
A Spcine como motor do audiovisual em São Paulo
Criada em 2015, durante a gestão de Fernando Haddad, a Spcine se consolidou como uma das mais relevantes instituições de fomento ao audiovisual no Brasil. Sua atuação abrange desde editais de produção e distribuição até a criação de um circuito público de salas de exibição, garantindo maior acesso à população e fortalecendo a indústria local.
Contrariando a afirmação do artigo de que "a Spcine nunca esteve à altura da grandeza de São Paulo", os números comprovam seu impacto positivo:
- Mais de 200 obras audiovisuais financiadas por seus editais, incluindo filmes, séries e conteúdos inovadores para streaming e novas mídias.
- Circuito Spcine com 32 salas de exibição, levando cinema de qualidade para áreas periféricas, onde há pouca ou nenhuma oferta de salas comerciais.
- Apoio a mais de 150 festivais e eventos audiovisuais, ampliando o alcance de produções independentes e fortalecendo a diversidade do setor.
- Captação de investimentos privados, gerando um efeito multiplicador no mercado audiovisual e impulsionando empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva do cinema.
- Atuação da Spcine Film Commission, que atrai grandes produções nacionais e internacionais para filmagens na cidade, movimentando a economia local e estimulando negócios no setor.
Democratização e inclusão no audiovisual
Uma das críticas recorrentes do artigo é a ênfase da Spcine em ações afirmativas para grupos historicamente marginalizados na indústria audiovisual. No entanto, esse compromisso com a inclusão não é uma “armadilha ideológica”, como sugerem os autores do texto, mas sim uma necessidade real para garantir que o audiovisual reflita a diversidade cultural e social do Brasil. Países com indústrias cinematográficas avançadas, como França, Alemanha e Canadá, adotam políticas semelhantes de incentivo à pluralidade de narrativas.
Além disso, a afirmação de que a Spcine estaria reduzindo sua atuação a um viés identitário ignora a lógica dos editais da empresa, que continuam contemplando projetos com potencial comercial, artístico e inovador. A diversidade no audiovisual amplia a audiência e gera impacto social positivo, algo essencial para o crescimento sustentável do setor.
O Sindcine apoia as ações positivas que a Spcine implementou, porque ajudam a formar mão de obra para o setor audiovisual em grupos que até hoje estiveram majoritariamente excluídos desta atividade que tanto amamos, além de organizar os espaços de filmagem na cidade, atividade fundamental para os profissionais de produção.
A falácia da ineficiência e os reais desafios da Spcine
O artigo sugere que a Spcine falha na execução de seu orçamento e que a criação do Circuito Spcine foi um desperdício de recursos. No entanto, a realidade é que a empresa opera com um orçamento muito abaixo do necessário para atender à demanda do setor. Apenas em 2024, a Spcine teve que lidar com um corte significativo de recursos, o que comprometeu a execução de alguns projetos.
Comparativamente, a Argentina investe cerca de US$ 30 milhões anuais no Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), enquanto o orçamento da Spcine gira em torno de R$ 50 milhões por ano – uma fração do que outras nações destinam para fortalecer sua produção audiovisual. A demanda por ampliação do orçamento não é um reconhecimento de fracasso, mas sim um reflexo do potencial ainda maior que a Spcine poderia alcançar com recursos mais robustos.
Sobre a Spcine Play, seu serviço de streaming gratuito, é falacioso afirmar que seus números de audiência são irrelevantes sem considerar seu objetivo primário: ampliar o acesso a conteúdos nacionais que não encontram espaço no circuito comercial. A plataforma atende um público específico e cumpre um papel estratégico na preservação e difusão da cinematografia brasileira.
O impacto nefasto da gestão de Ricardo Rihan na Secretaria do Audiovisual
O artigo desconsidera, convenientemente, o período em que Ricardo Rihan esteve à frente da Secretaria do Audiovisual durante o governo Bolsonaro, um dos momentos mais nefastos para a indústria cinematográfica brasileira. Sob sua gestão, diversos mecanismos de fomento ao setor foram desmontados ou esvaziados, resultando em um apagão de recursos e paralisação de inúmeros projetos. Entre os retrocessos promovidos, destacam-se:
- Sucateamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que teve recursos contingenciados, atrasando e inviabilizando produções.
- Desarticulação da Ancine, levando a um engessamento de políticas públicas e ao comprometimento de incentivos essenciais para o setor.
- Censura velada e tentativas de controle ideológico sobre produções culturais, com a imposição de critérios políticos para aprovações de projetos.
- Dificuldades no acesso a recursos internacionais, afastando coproduções e parcerias estratégicas para a expansão do cinema brasileiro.
Ao ignorar esse histórico desastroso, Rihan tenta projetar críticas à Spcine sem qualquer autocrítica sobre sua própria passagem pela gestão pública. A crise que o setor audiovisual enfrentou durante esse período teve consequências graves, que ainda hoje impactam o cinema brasileiro, enquanto a Spcine, mesmo com orçamento limitado, continuou promovendo a produção e democratização do acesso ao audiovisual.
O futuro da Spcine e o desenvolvimento do setor
Ao sugerirem a "refundação" da Spcine e a mudança de seu nome para "São Paulo Filmes", os autores do artigo ignoram o legado positivo construído ao longo dos últimos dez anos. O verdadeiro desafio não é desmontar a instituição, mas sim garantir sua expansão e fortalecimento, buscando parcerias com o setor privado e maior apoio governamental para que São Paulo consolide sua posição como polo audiovisual de referência internacional.
Entre tantos questionamentos, o único que tem algum fundamento é que a Spcine não recebe verbas à altura de seus desafios. Desejamos que lideranças políticas e econômicas de todas as linhas de pensamento contribuam para que a Spcine receba novas verbas e possa realizar ainda mais do que já consegue atualmente, apesar de todas as dificuldades e críticas vazias.